terça-feira, novembro 08, 2005

ARRASTÃO

A revolta dos bairros ao redor de Paris, pese embora me choque, não me tem espantado.
E pergunto-me apenas quando chegará a nós. Dois, três anos no máximo (e acho que estou a ser optimista) e baterá às portas de Lisboa.
Chelas. Amadora. Algés.
Quem recentemente tenha percorrido qualquer um dos citados locais compreende que o barril de pólvora que ali está instalado, mais dia, menos dia, estoira. E, quando o fizer, será sem controle. O arrastão foi apenas um aquecimento.
É gente que não tem nada a perder.
Que é portuguesa mas nasce excluída.
Excluída da escola.
Excluída do trabalho.
Excluída da cidade grande, que lhe reserva um subúrbio manhoso e desfigurado, de guetos, droga, prostituição e desemprego para sobreviver.
Os níveis de degradação social que uma sociedade dita desenvolvida (ou em vias de desenvolvimento) reserva sempre a uma enorme fatia de gente importada (africanos, leste, brasil), gente necessária e barata, disposta a tudo por um naco de vida, é o pior remédio e sempre me fez pensar que não devia ser a isto que chamam desenvolvimento.
A intoxicação social provocada pela exclusão, de que são as primeiras vítimas em tempos de recessão, é e será sempre uma faca de dois gumes, onde todos se irão ferir.
Só que, aí chegados, eles não terão nada a perder.
Mas nós, os instalados, temos. E muito.

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