terça-feira, novembro 30, 2010

A FUNCIONÁRIA

EU – Bom dia. Fala Nuno Magalhães e por causa do Proc. x. Enviaram-me as guias de pagamento de custas para o meu antigo escritório e não tenho acesso elas. Pedia para as enviarem outra vez…
FUNCIONÁRIA – (com voz autoritária) Isso não é possível Sr. Dr.
EU – Não tem que ser por correio. Pode ser por e mail ou fax…
FUNCIONÁRIA –(interrompendo-me) E mail não tenho. E o fax fica no r/c e eu estou no 2º andar.
EU – Pois mas assim o meu Cliente não consegue pagar as guias…
FUNCIONÁRIA – (novamente interrompendo-me) Isso não é um problema nosso
EU – É verdade. Mas talvez já o seja o facto de ter endereçado a carta para uma morada antiga, que eu já comunicara estar desactivada. Ora faça o favor de ver no processo.
FUNCIONÁRIA – …
EU – Como talvez o seja o facto de, se vir, a carta que me enviou ter um endereço parcialmente errado. Daí a devolução
FUNCIONÁRIA – …
EU – Talvez por isso, para não me obrigar a tomar uma posição escrita no processo, fosse de bom senso descer ao r/c e enviar-me as guias por fax. Não custa nada. É só descer dois lanços de escada. Caso contrário vou ter que escrever a expor o sucedido ao Senhor Juiz.
FUNCIONÁRIA – (prolongado silêncio e, com voz apagada). Eu vou agora para um julgamento. Agora não posso. Mas logo à tarde vou tentar enviar por fax

Nota: Refira-se que esta fora a funcionária que errara no endereço da carta devolvida.
Felizmente esta senhora é uma excepção, cada vez mais rara, porém não virgem, nas minhas deambulações pelas repartições públicas. Só é lamentável poder continuar a ser funcionária de secretária. Acho que escreveria melhor com uma esfregona e uns calos nas mãos.
P.S. O fax chegou 1/2h depois do telefonema. O julgamento da senhora funcionária deve ter sido curtinho...

domingo, novembro 28, 2010

TECNOCRATA DA JUSTIÇA

Da entrevista que o ex-Secretário de Estado da Justiça, João Correia, deu ao jornal I, destaco esta frase: "não é imputável a nenhum agente processual a situação actual da Justiça. Não me peçam que diga que a responsabilidade está nos juízes, nos advogados, nas garantias, no Ministério Público... Não é verdade. Aquilo que é imputável à Justiça é a organização dela própria, no seu todo".
Afirmações como esta fazem-nos perceber o que realmente está mal na justiça: este caldo de cultura desresponsabilizadora, a total ausência de assumpção de culpas, invariavelmente diluídas em frases tão extensas quanto vazias, que distribuem slogans gratuítos e invariavelmente inconsequentes que permitem que os governantes passem mas a m…. de política seja sempre a mesma. Alguém acreditará que os agentes da justiça são assim virgens e impolutos, absolutamente alheios ao que de mal lá se passa?
Só isso já seria suficiente para justificar a minha felicidade pela saída deste tecnocrata judicial da secretaria de estado.
E talvez ajude os menos identificados com os andamentos da justiça a sintonizarem-se com as críticas ferozes que Marinho Pinto, homem frontal e pouco dado à vacuidade oral, teceu ao trabalho do ora demitido.

sexta-feira, novembro 26, 2010

GOVERNO

Quem nunca ouviu relatos de momentos dramáticos em que os familiares têm que pedir aos médicos que deliguem a máquina que alimenta a vida vegatativa de um ente querido?
A única diferença para o actual governo é que não é um ente (mas um repelente) e muito menos querido. Mas que está ligado à vida artificial está. Maldita constituição que não permite a imediata queda e substituição por um governo de salvação nacional. Seria o único caminho razoável.

quarta-feira, novembro 24, 2010

A GREVE II

No final do dia de greve, várias coisas serão certas:
1. Os grevistas estarão mais pobres, porque o dia lhes será decontado
2. O país estará mais depauperado, porque a produtividade foi afectada
3. As razões (aparentes) que motivaram a greve estarão lá todas, inteirinhas e inamovíveis
4. A crise será maior, desde logo porque a triste figura que esta reivindicação desajustada e destemperada, apenas contribui para a descredibilização externa do país e a aceleração da tomada de novas medidas de austeridade que com toda a certeza aparecerão com a entrada do FMI pelas portas adentro.

GREVISTAS

A primeira conclusão que tiro deste dia de greve geral, em que demorei meia hora a fazer um percurso que habitualmente completo em 5´ é que há de facto um país a duas velocidades: um, que procura desenvencilhar-se no meio de uma crise sem precedentes, que quer garantir o emprego, a subsistência das suas famílias e que não tem tempo para folclores irresponsável. É o país dos privados. Outro, o país público, que faz greve, que luta contra os moinhos de vento, com um discurso gasto e irresponsável, e que com a reclamação de aumento de salários (ao invés da inevitável redução), de manutenção de privilégios e da despesas que tal acarreta, nos tenta conduzir, como conduziu, ao descalabro em que nos encontramos.
Talvez quando os despedimentos no sector público chegarem (e estão perto, muito muito perto) alguns dos grevistas afectados com a ida para casa venham a sentir saudades do tempo mau em que eram funcionários públicos e em que tinham um "patrão" que lhe garantia o salário ao dia certo.

terça-feira, novembro 16, 2010

DÍVIDA

Os anúncios de Teixeira dos Santos, Sócrates e até Vítor Constâncio de que Portugal não lançará mão de ajuda externa para cumprir os seus compromissos de pagamento da dívida externa fazem-me lembrar aquelas declarações dos presidentes dos clubes feitas à segunda-feira, depois da goleada sofrida, em que reiteram a confiança no treinador. Ficamos logo a saber que será tudo ao contrário e apenas por uma questão de dias. Assim será com a a nossa dívida.

domingo, novembro 14, 2010

OS BONS INVESTIGADORES E O ADVOGADO ALTRUÍSTA

Quase dois anos depois de ter rebentado com o BPP, João Rendeiro viu a sua casa invadida pela PJ.
Louvamos, antes de tudo, a extrema diligência dos investigadores que tudo fazem para levar à justiça o autor deliberado da ruina de muita gente. Dois anos não é mau, porque podiam ser três...
Mas ficamos a saber que, afinal, Rendeiro é uma boa alma.
Tem a defendê-lo não só aquele que era o presidente da Assembleia Geral do Banco e co-autor de muitos dos contratos que ajudaram à ruina dos sobreditos. Mas, mais importante do que isso, ficamos a saber que esse advogado caro, muito caro, é afinal um bom samaritano, que hipoteca uma parte do seu Sábado para se deslocar à SIC para denunciar o abuso dos investigadores precupado que está "com os mais desprotegidos" e assim evitar a multiplicação de abusos futuros.
Num tempo de egoismo exacerbado há pois que louvar a entrega de alguns.
Ainda há almas boas.

segunda-feira, novembro 08, 2010

ROUBEI O CARTOON...


...não sei a quem nem onde, porque me chegou via e mail.

Mas com a devida vénia me curvo e publico para memória futura de uma noite em os lampiões se fundiram.


domingo, novembro 07, 2010

OITO ANOS...

... todos os dias ausente. Mas todos os dias presente.
Still missing you Granny.

quarta-feira, novembro 03, 2010

O PINGUINHO

O Tuga adora o pingo.
Ou melhor, o pinguinho, que por cá tudo que embaraça vai assim travestido de pequenino (vou fumar um cigarrinho; bebi um copinho a mais; fui infiel uma vezinha)
O pinguinho é o espelho do pior que o Tuga consegue ser.
Ele já não quer leite, que tomou de manhã.
Também não quer café, que emborcou nas duas ou três habituais pausas de trabalho. E muito café enerva-lhe os nervos. E a cabeça.
Por isso senta-se no café (o Tuga adora deitar tempo fora) e, como na verdade apenas lhe apetece nada, pede o pinguinho.
É o seu meio termo de nada, entre o leitinho e o cafezinho. É o seu jeitinho de não assumir que está ali a fazer de inútil, onde não precisava de estar, onde não quer estar mas prefere estar em vez de parquear na mesa de trabalho. Ou em qualquer outro lugar útil.
Ele vai investir os cêntimos, o tempo e a paciência no seu perpétuo jogo de deixar correr. De fazer o que não deve, quando não deve. É a arte do inútil (o pinguinho é a bebida mais dispensável do mundo) onde ele labora (em algum campo o havia de o fazer) com mestria.
Ora o pinguinho é também o cigarrinho que não apetece a não ser como justificação para não ser produtivo.
O pinguinho é também a voltinha de carro domingueira, horas a fio para lado nenhum, quase sempre calado só à espera de gastar o tempo.
O pinguinho é toda a nossa imensa improdutividade, toda a nossa incomensurável capacidade de nada fazermos fazendo de conta que tudo fazemos.
O pinguinho é a causa da nossa desgraça.