quarta-feira, setembro 07, 2005

A ÚLTIMA FRONTEIRA

A ausência de consciências críticas, desalinhadas, no espectro partidário nacional é um sinal comovedor do estado a que chegou a república.
Não falando do PCP (onde o alinhamento é estatutariamente obrigatório) e do CDS (que ao invés de partido político mais parece um infantário, tal o cheiro a cueiros exalado da bancada parlamentar), sobram-nos o PS e o PSD.
E sendo estes responsáveis pelo que de bom (e mau) tem a nossa democracia, seria expectável mais, muito mais debate, desalinhamento, espirito crítico.
Porque dois partidos que agremiam leques tão vastos de pessoas (católicos e ateus, sociais-democratas e liberais, ricos e pobres, instruídos e analfabetos) não podem cantar ossanas nem dizer a uma só voz.
Porém, retirando Manuel Alegre, no primeiro, e José Pacheco Pereira, no segundo, pergunto quem têm estes dois partidos, no seu seio, a defender ideias e caminhos diferentes das respectivas direcções políticas?
À parte Valentins, Jardins, Isaltinos, Felgueiras (alguém lhes conhece uma ideia, um princípio, uma vocação que não seja o poder?) não há ninguém.
O debate é paupérrimo e só assim se explica a mediocridade que assaltou os dois partidos, e que está bem patente nos parlamentares que exibem, nos autarcas que apresentam a concurso e no deserto de ideias e de actos com que, à vez, comandam o país, e nos atiram para índices de subdesenvolvimento que até a Eslovénia já ultrapassou.
Os bons, os que têm provas dadas na vida civil, fogem e mantêm-se a léguas da vida política.
Os que ainda assim tentam (Alegre e Pacheco são exemplos) são ostracizados pela trituradora partidária, composta por gente que diz pouco mas berra muito.
E só assim se explica a sofreguidão com que, perdidos de ideias, vazios de princípios, ambos correm para o pai (Soares e Cavaco), como se nunca conseguissem sair da puberdade, que lhes desse alento e asas para fazer o rio correr para a frente.
Como escreveu Fernanda Câncio (hoje postante no Glória Fácil), em 1992, a propósito de João Jardim (mas que cabe como uma luva nas presidenciais que se avizinham) “quanto mais infantil é o povo, maior é o pai”. Ou, adaptando à circunstância, mais mediocre.

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