quinta-feira, junho 16, 2005

CUNHAL

Morreu há quatro dias mas propositadamente só hoje venho ao tema.
Primeiro há que deixar serenar, cumprir o “nojo”.
Sobretudo quando o que se quer dizer está alheado do politicamente adequado.
O homem foi um notável combatente anti-fascista. “La palisse não diria melhor”.
Mas nunca foi, como tenho reiteradamente ouvido, um lutador pela liberdade e pela democracia.
Essa é a maior cabala que a leitura histórica da sua vida pode querer montar.
Foi, isso sim, um lutador contra um tipo de estado absoluto, para instituir outro.
Cunhal preconizou sempre um estado soviético, estalinista. Por isso totalitário, ditatorial.
Reviu-se na “ditadura do proletariado”, foi o pai do PREC, dos movimentos das nacionalizações, da unicidade sindical, dos saneamentos a eito feitos em todos os organismos públicos.
Não quis ver o seu mundo a desabar e aquilo a que tenho ouvido chamar coerência, chamo antes de obstinação e cegueira, de não querer ver o óbvio e persistir no erro.
Cunhal nunca foi um democrata.
Nunca foi tolerante.
Nunca foi a imagem que quis tentar passar.
E, para os mais esquecidos, relembro: a democracia não regressou a Portugal como 25 de Abril de 74. Foi com o 25 de Novembro de 75.

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