segunda-feira, fevereiro 19, 2007

INGERÊNCIA

A principal razão por que nunca gostei de Cavaco prende-se com o facto de o homem conviver muito mal com quem pensa de forma diferente dele.
Aquela tentação autoritária, um bocadinho despótica mesmo, sempre que lhe perguntam ou dizem o que não gosta, e que nem a boca atafulhada de bolo-rei conseguiu esconder, levaram a que estivesse sempre de pé atrás com o homem.
Por isso tenho agora muito receio com o que vai fazer com a Lei do aborto.
Ao permitir que toda a sua “entourage” se sentasse e berrasse a favor do não, Cavaco nem tentou esconder o que pensa sobre o assunto.
Agora, referendo volvido, não deixou de mandar já o recado: que a lei seja consensual.
Pergunto-me como é possível ser consensual numa questão tão fracturante? E para que servem eleições (ou referendos) para questões consensuais?
O aborto não é nem o pode ser. Por isso a lei que resultar o referendo também não o será.
Ao agir como agiu, Cavaco só revela o que tem de pior: o seu autoritarismo, vestido de teimosia que leva a que viva mal com ideias contrárias à sua. A tentação de meter o nariz no resultado político do referendo, mostra o que há muito venho dizendo dele: ele não quer ser só presidente. O magistério de ingerência vai começar.

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