domingo, fevereiro 04, 2007

SEITAS

No jardim escola tive um dia uma honra: passar a pertencer à “seita” do Barbosa, colega mais dotado fisicamente, que normalmente resolvia, à paulada e com sucesso, as querelas com a “seita” contrária”.
Lembro-me, mais tarde, de sentir vergonha por aquela inclusão.
A discussão em torno do aborto está muito a centrar-se nas “seitas”: ou és por mim, e és o maior, ou não és, e levas porrada. Tal qual o jardim-escola. Acho que culpa vem dos dois lados mas acho, também, que quem terá mais a perder com o modus operandi serão os defensores do sim.
É que o “sim” carece de racionalidade, de razões substantivas, para conseguir ganhar partidários. O “não” pode esgotar-se (e não o fazendo anda muito perto disso) em dogmas da fé misturados com fundamentalismos de moral pública.
O “sim” tem que convencer a mudarmos. Ao “não” basta dizer que chega o que temos.
O “sim” é a voz do silêncio, da minoria, muitas vezes da vergonha, da falta de saber. O não vem dos favorecidos, com maior acesso ao poder e à informação.
Ora, é muito mais difícil construir que manter ou deitar abaixo. E quanto mais confusão estiver instalada, quanto menor objectividade permitirmos que se empreste à discussão, mais o “sim” descerá e o “não” subirá. A questão é se o “sim” vai ver isso a tempo.

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