quarta-feira, dezembro 12, 2007

SOBERANIA

O Tribunal, velho e decrépito, não inspirava a confiança necessária para a subida ao segundo andar. As tábuas do soalho, roto e carcomido, ameaçavam fugir-nos de debaixo dos pés.
Às 10 horas o Juiz está num desaprumo preocupante. O último botão da camisa incomoda, pois claro, assim como o nó do bacalhau, que está já uns 20º desviado do aprumo central. Sobra-lhe o fato, não menos velho e não menos gasto que o soalho mas, pelo menos, um fato (embora as calças supliquem um cinto que seja neto daquele que usa). O procurador preferiu um ar mais negligé: botas, calças de ganga e camisa aberta, que isto da solenidade dos Tribunais já era. Condiz, na perfeição, com o funcionário: fralda de fora, sapatilhas, barba por fazer (entra às 9h, não teve tempo) e um ar de frete que dá pena faltarrem-lhe ainda uns 30 anos para a reforma.
Vi que soberania estava bem representada. Estava quase tudo nos devidos lugares (apenas o meu banho, a gravata no lugar e os sapatos sem terra destoavam).
Era o tempo ideal do "fazer justiça".

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