domingo, outubro 03, 2010

AS REFORMAS

O sistema das reformas, tal qual hoje o conhecemos, foi construído no pressuposto de que durante a vida activa descontamos para comprarmos o direito a, no final, podermos passar uns anos à custa desse aforro.
A realidade de hoje é totalmente diversa.
À custa das reformas antecipadas (é hoje usual vermos gente com 55 anos já inactiva, a viver à sombra da reforma) e o aumento da esperança de vida veio desvirtuar esta realidade por completo. A soma deste binómio dá, não raro, o resultado de um cidadão lucrar com a reforma, i.e., ter maior retorno do que o contributo. Numa palavra contribuiu com 10 mas recebeu o retorno de 15.
Aqui reside uma componente importantíssima da falência do estado social e a razão principal por que as gerações vindouras não terão, pura e simplesmente, direito a qualquer apoio estatal digno. Até porque a maioria desses fundos de pensões (bancos, PT, seguradoras), verdadeiros depósitos de gente útil desactivada, acabam todos no orçamento de estado e a factura será paga por quem vier daqui a 10 ou 20 anos.
Atacar a fundo a desestruturação nacional passa, necessariamente, por atacar este problema.
Como?
Cortando, em absoluto, a possibilidade de aceder a reformas antes do tempo legalmente estipulado.
Mas, acima de tudo, cortar nessas mesmas reformas, penalizando mais gravemente e de modo radical (nunca menos de 50%) quer as maiores reformas quer, e sobretudo, aquelas que são gozadas por pessoas com menos de 65 anos e que não padecem de nenhuma incapacidade comprovada para o trabalho. Já. Ontem.
Esta geração que beneficia deste estado de coisas, a tal geração libertadora, que enche a boca com o 25 de Abril, é a grande responsável pela desestruturação do estado, graças a um egoísmo egocêntrico que a fez pensar que depois dela não haveria gente. Teve o SNS, reformas antecipadas, crédito barato, escola gratuita, água barata, preços dos combustíveis e das rendas congelados, subsídios a torto e a direito, auto estradas e pontes gratuitas e em excesso, as RTP, CP, Carris, Rave, Refer e TAP, o BPN, o BP e a Caixa Geral de Depósitos. E, pior que tudo, mais de 700.000 funcionários públicos e outro tanto a viver indirectamente do estado.
Tudo, mas mesmo tudo alicerçado num orçamento de estado onde o endividamento foi sempre a tábua de salvação. Por isso pode-se orgulhar de atrás dela deixar uma imensa terra queimada e nem ossos para roer. Os netos não deixarão de lhe agradecer.

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