quarta-feira, novembro 03, 2010

O PINGUINHO

O Tuga adora o pingo.
Ou melhor, o pinguinho, que por cá tudo que embaraça vai assim travestido de pequenino (vou fumar um cigarrinho; bebi um copinho a mais; fui infiel uma vezinha)
O pinguinho é o espelho do pior que o Tuga consegue ser.
Ele já não quer leite, que tomou de manhã.
Também não quer café, que emborcou nas duas ou três habituais pausas de trabalho. E muito café enerva-lhe os nervos. E a cabeça.
Por isso senta-se no café (o Tuga adora deitar tempo fora) e, como na verdade apenas lhe apetece nada, pede o pinguinho.
É o seu meio termo de nada, entre o leitinho e o cafezinho. É o seu jeitinho de não assumir que está ali a fazer de inútil, onde não precisava de estar, onde não quer estar mas prefere estar em vez de parquear na mesa de trabalho. Ou em qualquer outro lugar útil.
Ele vai investir os cêntimos, o tempo e a paciência no seu perpétuo jogo de deixar correr. De fazer o que não deve, quando não deve. É a arte do inútil (o pinguinho é a bebida mais dispensável do mundo) onde ele labora (em algum campo o havia de o fazer) com mestria.
Ora o pinguinho é também o cigarrinho que não apetece a não ser como justificação para não ser produtivo.
O pinguinho é também a voltinha de carro domingueira, horas a fio para lado nenhum, quase sempre calado só à espera de gastar o tempo.
O pinguinho é toda a nossa imensa improdutividade, toda a nossa incomensurável capacidade de nada fazermos fazendo de conta que tudo fazemos.
O pinguinho é a causa da nossa desgraça.

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