sexta-feira, setembro 08, 2006

TUGA DA BOLA

165 cm.
87 kg.
Cremalheira numa lástima.
Anel de curso (da vida).
Óculos “reibados”.
Cachecol, boné, camisola e impermeável do clube.
Corta unhas agarrado ao molho de porta chaves e pendurado na presilha traseira das calças.
Palito, com a ponta já muito maltratada, entalado em dois incisivos depois dos rojões bem regados e ainda não digeridos.
Fato de treino de fibra, toque acetinado, directamente em cima da pele, a tresandar um nauseabundo pivete a suor de várias utilizações. O mais modernaço usa sapatilha marca “Nice” ou “Reboca”, S. João da Madeira made. O conservador vai de sapato com um nisquinho de tacão a disfarçar a pequenez. .
Se o destino lhe ditou a calvice, ela está camuflada por quatro fios de cabelo, escrupulosamente puxados de orelha e orelha, colado na “cruxa”do crânio com brilhantina q.b.
Porém, se foi abençoado com o dom da pilosidade, exibe os tufos que lhe povoam o peito, deixando o fecho eclair aberto até um meridiano acima do umbigo. No meio, perdida, anda normalmente uma santa, pendurada no fundo de uma “esvortinha” de ouro. De lei.
Se se locomove em veículo a motor tem normalmente uma tonelada de lixo espalhada pelo tablier e chapeleira (rendinhas, pirilampos, crucifixos e terços, o colete reflector, um almofadinha, um jeco de porcelana com a cabeça a abanar, o cachecol do clube etc.etc.).
Chega cedo ao estádio, emborca uma ou duas cervejas e transpira, ansioso, que o jogo comece. Passa o tempo a deglutir cigarros, insulta tudo o que mexe sem ser das cores do seu agrado, abre excepção e, por vezes, também insulta os seus, olha de soslaio a cada “piropo” a ver se colheu adeptos ou, ao menos, um sorriso aprovador e, cinco minutos antes da hora pira-se a todo o vapor com pressa de chegar a lado nenhum.
Compra o desportivo no dia seguinte, lê, recorta e guarda para memória futura.
Deprime e fica oito dias à espera do próximo jogo.

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